segunda-feira, setembro 01, 2008

01.09.08

“Você fuma demais, Keyra”! – comentou um rapaz ao ver que eu já tinha consumido ao menos quatro cigarros desde a hora que ele chegou à empresa. Agoniado, tentava soltar brincadeiras, até mesmo me ajudar a consumir o cigarro para que eu fumasse menos.
Não adiantava, eu apenas olhava para ele com cara de quem ri de uma piada sem graça, apenas para não deixa-lo sem a mesma.
“Você está pálida demais, Keyra”! – Mais comentários que chegavam até a minha pessoa, vindo de outros lados.
E desde que eu voltei ao Brasil com meu filho.
Desde os últimos eventos.
Tenho vivido a minha vida como escritora, mãe e fumante inveterada.
Ainda rio ao lembrar o quanto isso deixava o pessoal agoniado a me ver fumando a quantidade de cigarros que eu estava a fumar.
Propagandas e mais propagandas sobre os males desse vício pareciam apontar o dedo como gigantes que condenam os tolos mortais.
Mas eu não ligava.
Não me importava realmente.
Muitas pessoas se preocupando, por verem tantas sombras ao meu redor, tão preocupadas achando que eu não possuo mais aquele brilho. Dizendo que cultuo a tristeza e não sei viver sem ela.
Acho que posso contar os anos em que fui feliz. Poucos, perto da idade que tenho e ultimamente ando tão cansada...
Algumas pessoas diriam que crio ilusões, mas não se trata disso.
Foi-se o tempo que derramei lágrimas por um amor idealizado, um amor que acreditei... Que cheguei a acreditar que faria minhas buscas encerrarem.
Minhas buscas encerraram...
Encerraram por não agüentar mais pensar que um amor duradouro... Daqueles típicos comerciais de margarina... Açucarados... Baunilhados... São verdadeiros.
Às vezes chego a me chamar de hipócrita em frente a um espelho, ao tentar fazer com que amigos meus acreditem nessa ideologia... Mesmo sabendo que um dia, eles podem vir a ficar com o corpo vazio... Com olhares vazios... Com semblantes franzidos... Rindo...
Incrédulos...
Amargurados com a vida.
“Tenho medo do que palavras como essas podem causar em você, Keyra”!
Não podem causar mais nada, não a partir do momento que o amor é visto de um prisma diferente...
E em frente a um espelho, rangendo o maxilar por um tempo... Saio para a rua... Onde os dias voltaram a ser como outros dias quaisquer... Onde a fumaça escapa de meu pulmão, fazendo formas espirais...
Onde meu olhar voltou a contemplar o Horizonte...
E em algum lugar da minha mente...
Um velho grupo voltava a cantar com a mesma intensidade de sentimentos enquanto escrevo essas linhas.

“Pessoas circulam tentando viver
Mas a vida passa e ninguém a ver
Perdidos no tempo
Tentando sair
As luzes se apagam e eu aqui
Tentando mudar o que não vai ser mudado
Tentando criar o que já foi criado

O tempo passa e a gente tenta esquecer
O horizonte está ali, mas não se quer ver
Horizonte perdido
Qual a certeza de viver
Horizonte perdido
Eu não quero crescer

É há loucos que lutam sem saber o motivo
Se esquecem das horas
Se deixam cativos
De uma sede incansável que não se perturba
Não pede licença
Não pede desculpas

O tempo passa e a gente tenta esquecer
O horizonte está ali, mas não se quer ver
Horizonte perdido
Qual a certeza de viver
Horizonte perdido
Eu não quero crescer

Mas o tempo não se ilude
Tanta certeza que ficou
Por trás de cada porta que alguém fechou
E então nos embriagamos
Com as cores que se mostram
E sequer notamos, o quanto nos forçam
A esperar um novo dia
A esquecer a rebeldia

O tempo passa e a gente tenta esquecer
O horizonte está ali, mas não se quer ver
Horizonte perdido
Qual a certeza de viver
Horizonte perdido
Eu não quero crescer”

(Horizonte Perdido - Heróis do Dia – LP Traçado a Giz)